Biografia - Cordélia Ferreira: Cordélia Dias de Barros nascida às 2h da manhã de 09 de Agosto de 1898 em Paranaguá, município localizado no litoral do Paraná. Foi uma atriz, radio-atriz, cantora, apresentadora e dubladora. A arte sempre esteve presente em sua família, seu avô, Pereira da Costa, foi um famoso violinista, seu pai era sobrinho de Antonio José Rocha, um famoso cenógrafo português e tio do ator Eurico Costa. Filha de Francisco Dias de Barros e Maria Esmeralda Moniz Barreto da Costa Barros, dois atores e diretores de teatro amador bastante conhecidos que encenavam suas peças em clubes e teatros. Irmã de Desdêmona de Barros Pinto, uma grande atriz amadora, que, se afastou da carreira após a morte do marido em 1927, o também ator, Álvaro Pinto e se casar novamente em 1929 e de Olavo de Barros, um também conhecido ator dos anos 20 e 30, que, durante os anos 40 foi o diretor de teatro da Rádio Tupi. Já criança, adorava viver nos camarins e apreciar as roupas, maquiagens, material cênico, as peripécias dos atores e todo o universo envolvido no mundo teatral. Aos 8 anos de idade, em Campos dos Goitacases, iniciou sua carreira na Companhia Cinira Polonio, onde, realizou apenas dois pequenos papéis. Mais tarde, esteve na Companhia Eduardo Pereira, onde, revelou um espirito predestinado para o teatro. Mas, foi aos 14 anos, que sua carreira teatral profissional iniciou. Interpretando a personagem ‘Melindrosa’ na peça "Outono e Primavera", que a companhia de Leopoldo Fróes encenou no velho Teatro Trianon no Rio de Janeiro. Em 1917, estreou em sua primeira grande peça “A Viuvinha do Cinema”, com direção de Leopoldo Fróes, participação de Plácido Ferreira e dentre outros grandes atores. Peça que se tornou um sucesso na crítica e pelo grande público. Após várias participações na companhia de Leopoldo, em Julho de 1918 ingressou no elenco de sua companhia, já realizando dois papéis muito elogiados pelo público e pela crítica. Conheceu Plácido Ferreira, seu futuro marido, muito jovem, quase menina, quando o mesmo pertencia ao elenco de Alfredo Miranda, que então, trabalhava no Teatro Recreio. Plácido viajou por um período para Portugal, sua terra natal, onde, mais tarde, regressou para trabalhar no elenco de Leopoldo Fróes, que ocupava a Teatro Trianon, no qual Cordélia também participava. Tornaram a trabalhar e se encontrar juntos, aumentando a convivência e o afeto entre os dois. Após um mês de noivado, casaram em Pelotas no Rio Grande do Sul, em 10 de Junho de 1920 no salão nobre do Teatro Sete de Abril. Tendo como padrinhos, Abadie de Faria Rosa e Estevão Santos, por parte da noiva, e, Leopoldo Fróes (que ofereceu as alianças ao casal) e Arnaldo Figueirôa, por parte do noivo. Passou a se chamar Cordélia de Barros Ferreira, mas, preferiu adotar apenas 'Ferreira' no sobrenome. Após seu casamento, sua mãe que a acompanhava em suas viagens regressa para o Rio e ficar com seu marido, que anos antes havia se aposentado. Teve seu primeiro e único filho aos 22 anos de idade, Leopoldo Ferreira, que em 1951 entrou para o elenco da Rádio Globo, porém, ao contrário dos pais, não seguiu na vida artística, mas se tornando um famoso cirurgião dentista no Rio de Janeiro, entrando em meados dos anos 50 no Hospital dos Servidores do Estado do Rio e em 1960 fundando a Sociedade Internacional Criança Sorriso, lugares onde trabalhou até sua morte e recebendo enorme visibilidade. Por opção própria, seu marido se afastou do mundo teatral para se dedicar aos cuidados do filho. Entre os anos 20 e 30 ela e o marido atuaram em diversas peças teatrais, onde, em sua grande parte, Leopoldo Fróes era o diretor. Em 16 de Fevereiro de 1934 estreou no Teatro Sant'Ana com a Companhia de Comedias, sob a direção de Antônio Palma, em uma peça inspirada num soneto de Vicente de Carvalho, junto de Mesquitinha e Hortenela Santos em São Paulo. Foi em 1935 que sua carreira no rádio se iniciou. Realizando sketches (um termo utilizado para se referir a pequenas peças ou cenas dramáticas, geralmente cômicas e com menos de dez minutos de duração) na Rádio Cruzeiro do Sul, convidada por Ari Barroso e pelo maestro Martinez Grau, então dirigente do programa "Hora H". Agradou bastante ao público e aos diretos da rádio, e junto do colega Barbosa Junior foi trabalhar na rádio Mayrink Veiga, após alguns meses trabalhando na Rádio D-2, também fazendo sketches, onde atuava com grande destaque, já que por sua vez, o rádio-teatro não passava de um sonho. A necessidade de se fixar no Rio e cuidar do filho fez com que ela trocasse os palcos pelo microfone. No mesmo ano, em 1935, Cordélia fez sua primeira aparição cinematográfica, no filme “Alô, Alô, Brasil!” que conta com a presença dos maiores cantores populares do Brasil da década de 1930, ao lado de Carmen e Aurora Miranda, Dircinha Batista dentre outros. No longa, Cordélia realiza apenas um breve diálogo com o radialista ‘Almirante’. O nome de Cordélia Ferreira foi pouco á pouco se popularizando no rádio, tornando-se alvo das mais carinhosas demonstrações de apreço, por parte de todos os radiouvintes do Brasil. Em Maio de 1938 foi convidada por João de Barro e Wallace Downey para dar voz a Rainha Má no filme “Branca de Neve e os Sete Anões” (1937) de Walt Disney, o primeiro filme a ser dublado no Brasil. Foi escolhida para o papel por ter uma voz potente, conhecida e muito semelhante com a da atriz original. No mesmo ano, Cesar Ladeira, o mais famoso locutor da época, idealizou apresentar uma peça por semana no rádio, chamando Plácido Ferreira para dirigir a iniciativa, infelizmente essa iniciativa não obteve sucesso e não seguiu adiante. Porém, ela e Cesar foram os eleitos como a voz feminina e masculina mais brilhantes para "Cine-Rádio Jornal" no rádio. Em 1943 estreou na peça teatral "Covardia" na Mayrink, como Denize, onde os fãs finalmente puderam ver sua pessoalmente, e não apenas ouvi-la como assim faziam em suas radio-atuações. Foi descrita e aplaudida por críticos de jornais e revistas da época com uma performance de acerto, perfeita naturalidade e com muita agitação. A já queridíssima estrela da Rádio Mayrink Veiga, cujo senso dramático era admirável e apreciado por uma enorme legião de fãs, deveu o êxito de suas criações à facilidade como se compenetra das situações que representa ao microfone. No mesmo ano, trabalha novamente com Edmundo Maia e Sarah Nobre, também dubladores da Disney, em “A Grande Mentira”, uma encenação de rádio do filme de mesmo nome da Warner Bros. Sua maior emoção foi interpretar o papel de Maria, em "As Solteironas dos Chapéus Verdes", onde, se adaptou fácil a figura da simpática e meiga solteirona. Outro papel de destaque foi de Mãe Mártir, na radionovela “Destinos”, de Raymundo Lopes, onde, porém, o senso dramático se mostra verdadeiramente magnífico, representando o papel de mãe, em uma personagem que durante vinte anos de sofrimento, vagou pelo mundo a procura do filho que em uma noite trágica, foi roubado de seu berço. Ela e o marido continuaram trabalhando juntos em peças de rádio, eis, que surge o "Teatro Pelos Ares", um programa dá PRA-9 onde sua popularidade cresceu de vulto. E foi no Teatro Pelos Ares que presenciou um dos enormes sucessos de sua cerreira, com a peça "A Rajada", um drama que recebeu elogios até do Presidente Getúlio Vargas, que enviou um telegrama para a rádio. Foi também no programa que recebeu o título de Bette Davis do rádio brasileiro. Foi na noite de 30 de Agosto de 1946, que sua vida mudou de rumo. Seu marido, o qual estava casada à 30 anos, teve um mal súbito em sua residência, na Rua Sergipe nº 16, que levou ao seu óbito aos 63 anos, o que fez Cordélia ficar por um grande período de luto. Em uma entrevista a Revista “A Scena Muda” feita em Março de 1947, onde, completavam 6 meses da morte de seu marido, ela ainda se demonstrava de luto e um pouco triste pela grande perda do companheiro que sempre esteve ao seu lado, tanto nos palcos, como nos rádios. Ela revelou "...A atividade de Plácido era constantemente dinâmica, absorvente. Ao rádio e, por consequência a Mayrink Veiga, dedicou-se por completo nos seus dez anos de exercício nessa emissora. Basta dizer-se que arcando com a responsabilidade dos espetáculos do "Teatro Pelos Ares" e da "Cortina Sonora"." As vezes copiava peças inteiras à mão por não poder escrever à máquina.” Mas não foi apenas ela e o filho que sentiam a falta de Plácido, por possuir muito amor aos pássaros, ele tinha um canário, que, após a morte de Placído parou de cantar. Passou a morar na Rua Santa Amélia no Rio de Janeiro, rodeada pelos sobrinhos e o filho. Em sua homenagem, o famoso "Teatro Pelos Ares" passou a se chamar "Teatro Pelos Ares Placído Ferreira". Em 1949, decide voltar ao ritmo da vida no passado, retoma suas forças e retorna as radionovelas em grande forma. Em Janeiro de 1953 anunciava-se que ela iria sair da Rádio Mayrink Veiga e ir para a Nacional, porém isso não chegou a ser realizado. Com o apogeu das salas de cinema e o início da televisão, o rádio sofreu uma enorme perda de audiência, que gerou o fim das radionovelas, fazendo a artista se afastar dos rádios e dos holofotes por um tempo, porém, nunca perdendo sua gigantesca fama conquistadas pelas décadas anteriores. Nos anos 70 e 80 fez algumas pontas em novelas na TV Tupi e Rede Globo, emissora que enviou diversos convites para a atriz entrar em seu elenco de atores, porém, Cordélia sempre os recusava, já que a televisão e o cinema não chamavam muito a sua atenção. Mesmo com uma idade bem avançada, Cordélia viajava anualmente à São Paulo para visitar alguns familiares que moravam na capital. Recebeu o prêmio de Cidadã Fluminense em 29 Novembro de 1991, do Deputado Paulo Duque (PMDB) da Assembléia Legislativa, que propôs a homenagem por sua luta em defesa dos interesses dos artistas nacionais, numa época em que a mulher tinha reduzido acesso ao mercado de trabalho. O evento ocorreu no Salão Nobre do Palácio Tiradentes e contou com a presença de diversas figuras importantes do radio-teatro nacional. Com a morte de seu filho em 03 Março de 1997, Cordélia passou a não sair mais do apartamento, que era localizado no bairro da Tijuca, onde morava com a neta, Denise Braga, uma professora de história, e a nora, Cirene de Freitas Abreu Ferreira. Os programas em família, que incluíram peças de teatro e almoços em família em churrascarias, foram substituídos pelos programas de televisão e a leitura dos jornais, numa mania diária. Em 1998, seu nome retorna aos jornais e revistas por estar completando 100 anos de idade, sua carreira foi relembrada e algumas entrevistas foram realizadas com ela. Apesar a idade, Cordélia mantinha a vaidade dos tempos de teatro e, mesmo não saindo de casa, cuidava sempre da aparência, não dispensando a maquiagem. Em 24 Outubro de 1998, Cordélia foi homenageada no Hotel Le Méridien Copacabana (atual Hotel Hilton Rio de Janeiro Copacabana) pelo seu centenário e seus grandes trabalhos no rádio e no cinema brasileiro, festa organizada pela comediante Nádia Maria. Na ocasião, foram exibidos trechos de filmes nos quais ela participou (uma na Atlântida e outros na Cinédia) e a primeira versão de Branca de Neve e os Sete Anões. Em 27 Agosto de 1999 às 20h35, Cordélia faleceu aos 101 anos de insuficiência respiratória. Ela estava internada na Casa da Saúde Nossa Senhora da Penha, Rio de Janeiro, e morreu de causas naturais. Foi seputada no dia seguinte no Cemitério São João Batista. Cordélia não bebia nada com álcool, nem mesmo champanhe, nunca fumou e chegava à trabalhar mais de dez horas por dia, segundo ela, o segredo da vitalidade, era ter amor à vida e naquilo que se faz. Deixou uma carreira com enorme legado nas rádios, e uma voz que foi a mais conhecida e adorada do Brasil.
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Leonardo ForliRadialista e fanático pelo mundo Disney. Histórico
Junho 2022
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